quinta-feira, 4 de maio de 2000

* ACIDENTE TRAWLER X LANCHA

Com mais de 20 anos de experiências em mar e navegando por quase todo o Brasil de dia, à noite, debaixo de tempestades, ventos, enormes ondas e nevoeiros jamais poderia acreditar que um acidente (com barco) poderia acontecer comigo e com minha família em frente à "minha casa". 

Ola Meus amigos (as) Clientes e Marinheiros (as)... essa foi a primeira matéria do site do marinheiro em 1999. Eu gostaria de republica-la novamente, poirque acredito que para muitos podem servir como experiência.

Era vespera de Revellion, virada de 1999 para 2000 em Florianópolis - Santa Catarina - Brasil

Todos preocupados com o “bug do milênio” e eu nem ai, pois como todo marinheiro particular aguardava abordo uma decisão do meu patrão para ver se ele ia sair ou não com o seu barco naquela noite para assistir a queima de fogos na beira mar norte em Florianópolis SC.

O Barco era uma Spirit Ferretti 50 pés (na qual trabalhava na epoca) e depois de tanto esperar, meu Patrão ligou para meu celular e resolveu me dispensar, isso já era umas 23:30 hs. 

Como meu chefe não ia usar mais o barco, coloquei o barco na vaga na marina e já ia me dirigindo para a casa da minha mãe que mora próximo ao Iate clube para comemorar a virada do ano com a minha familia.

Porem na portaria dei de cara com meu falecido tio e sua família entrando no Iate Clube para uma outra programação, ou seja, o chefe dele emprestou o barco para ele e eles iriam para a Beira mar assistir a queima de fogos abordo da lancha, uma Carbrasmar 32. Ele me convidou e então tratei logo de aceitar e chamei minha mulher e meu filho que estavam próximo dali para ir nesse passeio.

Todos a bordo, navegamos com rumo a beira mar norte, largamos a ancora e cada um foi se ajeitando em cima do barco para pegar a melhor posição para assistir a queima de fogos da virada do ano. 

Sabíamos que o espetáculo duraria 23 minutos e, então 10 minutos antes de terminar a queima de fogos na beira mar norte em Florianópolis, Meu tio tomou a decisão de sair mais cedo daquela área que naquela altura já estava cheio de barcos fundeados. 

Isso para evitar a movimentação conjunta de todos barcos que seria iniciada após a queima dos ultimos fogos de artificios. Levantamos ancora e já estavamos com rumo de volta para o Iate Clube, porem não nos passou pela cabeça que alguns donos de barcos que estavam ali na beira mar norte com seus barcos pensariam a mesma coisa ( ou seja, sair mais cedo).

Foto: Divulgação/Credito Sunriseboats
Alguns amigos que estavam com nós abordo queriam continuar a festa na beira mar, e nos pediram para que os deixássemos um pouco antes do iate clube para que eles pudessem desembarcar proximo a avenida beira mar. Então mudamos a direção rumo a um trapiche que fica abaixo da ponte Hercílio Luz ( Escuna Sul) para desembarcá-los e posteriormente seguir viagem para o Iate Clube de Santa Catarina guardar o barco e continuar a festa na casa da minha mãe, pois la seria mais seguro.

Chovia fino, não tinha vento e o tempo estava fechando e se juntando com a fumaça dos fogos de artificios que se acumulou próximo onde estávamos, onde mal dava para ver a proa do barco.

Meu tio experiente, chamou quem estava na proa e no fly, mandou todos para dentro da cabine do barco e alguns se acomodaram na popa, diminuiu a velocidade e seguiu a navegação sob guarda para a proa do barco. Tudo estava tranqüilo quando do nada surge uma escuna de 74 pés a nosso boreste, com aquele enorme bico de proa e colide com nossa embarcação, ( Carbrasmar 32 pés ) esmagando o fly e adernando o barco a quase 90 graus arremessando quem estava na popa do barco para o mar. 

Lembro que enquanto procurava algum apoio para me segurar (enquanto o barco adernava), olhei para a popa e não avistei minha mulher e meu filho que estavam sentados embaixo do toldo sobre uma caixa de gelo. 

Entrei em desespero de não vê-los abordo, começei a procurar por todos os lados e lembrei que ali onde estavamos a profundidade local era de quase trinta metros.

Aquele espírito de felicidade de da festa acabou de se tornar um inferno a bordo. A gritaria das mulheres e crianças a bordo era ensurdecedor. Meu tio desengatou os motores do barco e logo tratou de retornar em direção da colisão. Eu continuava apavorado e perto de entrar em panico, pois toda essa manobra não demorou 1 minuto, mas na minha cabeça parecia que já tinha se passado mais de horas. Começamos a procurar as pessoas que caíram no mar, porem em vão não dava para ver nada, estava tudo nublado e ficava mais difícil ainda por que estávamos com medo de passar por cima deles.

Que sofrimento! que sufoco!

Passado aqueles minutos o pesadelo acabou para minha felicidade e das pessoas que estavam na agua. Pois uma embarcação do Paraná que vinha logo atrás assistiu a tudo e em seguida arremessou coletes salva vidas para os quatros que estavam na água.

Lembro que estávamos chegando no local do acidente e vi à tripulação da embarcação do Paraná fazendo sinal para nós parar e que as pessoas na água já tinham recebido os coletes salva vidas. Foi quando avistei minha mulher com meu filho na água e pulei na água pelo impulso de homem do Mar, mas eles já estavam salvos. Ajudei-os a subir a bordo da lancha  local de onde eles não deveriam ter saído. E tratei de agasalhá-los e encher de beijos.

Agora não é mais comigo...

Meu primo Cristiano que também caiu na água, contou que quando caiu na água viu meu filho agarrado no pescoço de minha mulher, e ele nadou na direção deles e mandou que se segurassem no ombro dele nele enquanto ele se mantinha boiando e tentava procurar algo para se segurar. 

Vocês não vão acreditar, porque alem da minha mulher e filho, o sogro do desse meu primo também caiu na agua e não sabia nadar e também se apoiou nele. 

Minha mulher conta que alem daquela situação de terror após todos caírem na água a escuna que colidiu com a gente ainda passou por cima deles. Foi muita sorte do Hélice da escuna não pegar nenhum deles.

Mas graças a Deus, minha protetora yemanjá, e sem duvida pela coragem do meu primo Cristiano ( Na foto a esquerda comigo) que sofreu para se manter com a cabeça fora da agua para aguentar naqueles minutos, os três náufragos que estavam se apoiando nele. 

E toda essa história aconteceu em menos de cinco minutos, foi muito rapido, passou em minha mente como um flash.

Esse acidente por pouco não vira uma tragédia. 

Depois disso atracamos no Iate clube e muitas discussões com a tripulação e dono da escuna se prolongaram por horas e semanas, porem acabou em nada.

Bom... a culpa de quem provocou o acidente não se sabe até hoje, pois ha muitas controvérsias. E optamos em não levar o caso adiante, pois para que arrumar um culpado se as pessoas que Amo sobreviveram e estão aqui comigo.

Conclusão:

"Naveguei milhares de milhas pelo litoral do Brasil inclusive com minha mulher e meu filho a bordo, navego a noite e em meio de nevoeiros e tempestades, porem jamais poderia imaginar que mesmo não sendo eu quem estava no comando, um acidente no mar  poderia acontecer comigo, ali na frente da minha casa".

Fica a frase:

"Nunca perca a atenção na sua navegação nem por um segundo, principalmente em áreas conhecidas."

Um abraço e Boas Navegações

Ney Broker
E-mail e MSN: neybroker@hotmail.com

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